O fato passou-se na Inglaterra, numa pequena cidade que cresceu ao redor de um famoso mosteiro. Certa vez a pequena vila viu-se fadada quase que ao desaparecimento devido a uma terrível peste que assolava a região. Como sempre faziam nos momentos de apuros, os habitantes correram em busca do auxílio dos piedosos e santos monges.
O abade, muito compadecido, não mediu esforços convocando toda a comunidade para atender aos necessitados sem esquecer porém que o maior auxílio que poderia prestar era o da oração: mandou chamar o mais moço dos noviços e deu-lhe a obediência de rezar diante do altar de Nossa Senhora não se afastando dele até que Ela lhe assegurasse o milagre.
Ernesto - o jovem noviço - obedeceu prontamente. Rezou com tanta submissão e confiança que logo alcançou o que pedia.
Esse fato marcou profundamente a vida daquele rapaz aumentando enormemente a devoção dele à Maria Santíssima. Sentia-se débil mas ao mesmo tempo muito protegido por Ela. Fortalecido nessa confiança progrediu notavelmente na prática da virtude em busca da perfeição.
Entretanto, ao demônio não agradava o progresso daquele monge e por isso desencadeou terríveis tentações contra ele, de maneira particular fazendo-o duvidar de sua vocação e despertando em seu casto coração desejos impuros. Ernesto diante das inúmeras armadilhas postas pelo inimigo não recorreu Àquela que tanto e tanto lhe ajudara em outras ocasiões e por fim deixou-se vencer…
No dia marcado para pôr em prática o plano sugerido pelo tentador caminhava ele pelo claustro do mosteiro: "Como farei isso? Pular o muro…" seu pensamento foi cortado por uma voz suave proveniente do altar da Virgem:
Surpreso, aproximou-se do piedoso afresco que outrora tinha sido objeto de suas inúmeras orações e respondeu:
"− Não vedes, Senhora, que não posso mais resistir? Por que não me ajudais?"
"− Por que, disse Ela, não me invocas? Se tivesses pedido meu auxílio não estarias assim! De agora em diante reza e não tenhas medo!
Reconfortado com aquelas palavras Ernesto voltou para sua cela, mas ali chegando foi novamente assaltado pelas tentações e como não cumpriu o que lhe aconselhou Nossa Senhora fez como o demônio queria: fugiu do mosteiro.
Pulou o muro e no mundo praticou as piores abominações. Finalmente, depois de uns anos de vida devassada alugou uma pequena casa utilizando-a como suposto albergue onde assaltava e matava os viajantes que a ele pediam abrigo, tornando-se assim o bandido mais procurado pela justiça da redondeza.
Certa vez pediu pousada um jovem cavaleiro muito bem apessoado. Logo que anoiteceu, depois de ter verificado que o hóspede já se recolhera, Ernesto arrombou a porta do quarto ávido pelo latrocínio. Aproximou-se e, para seu espanto, no lugar do cavaleiro encontrou o Santo Cristo. O Divino Salvador fitou-o longamente e por fim disse-lhe:
"− Filho ingrato! Não bastou haver morrido uma vez por ti? Quereis matar-me outra vez? Tens coragem?…"
Atordoado e arrependido o ex-monge pôs-se a chorar abundantemente e entre soluços pediu:
"− Senhor, é grande Vossa misericórdia! Perdoai-me e aceitai-me de volta!"
E sem hesitar um instante saiu em direção ao mosteiro, mas… no caminho foi preso e condenado à forca.
No momento da execução pediu um confessor, entretanto os juízes não lhe deram crédito. Fez então um ato de confiança em Nossa Senhora e quando ergueram-no no patíbulo sentiu que alguém o segurava impossibilitando assim que fosse enforcado: era Ela!!!
− Meu filho, disse-lhe, volta para o mosteiro. Reza e faz penitência. Eu alcançarei o perdão de teus pecados e virei buscar-te no fim de tua vida.
Ernesto voltou para o mosteiro e humildemente apresentou-se ao abade contando sua história. Fez penitência, levou uma vida cheia de virtudes e mais do que tudo difundiu largamente a devoção à Maria Santíssima, que nunca, nem mesmo no mais horrendo e profundo crime o abandonara.
Admirável lição para nós e para o mundo atual: por mais que tenhamos tido a desgraça de trilhar o caminho do vício, por mais que a humanidade esteja imersa na violência, no desrespeito à lei de Deus, no amoralismo e no crime, não desesperemos, lembremo-nos das suaves palavras proferidas pelo não menos suave Doctor meliflus, o grande São Bernardo de Claraval:
" …se perturbado pela lembrança da enormidade de teus crimes, confuso à vista das torpezas de tua consciências, aterrorizado pelo medo do Juízo, começas a te deixar arrastar pelo turbilhão da tristeza, pensa em Maria.
Que seu nome nunca se afaste de teus lábios, jamais abandone teu coração; e para alcançar o socorro da intercessão dEla, não negligencies os exemplos de sua vida.
Seguindo-A, não te transviarás; rezando a Ela, não desesperarás; pensando nEla, evitarás todo erro.
Se Ela te sustenta, não cairás; se Ela te protege, nada terás a temer; se Ela te conduz, não te cansarás; se Ela te é favorável, alcançarás o fim."
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